Semana passada, eu estava trocando ideias com os alunos do 2º Ano do turno matutino sobre o tema TELEVISÃO. Aulas não são lineares e um assunto puxa outro. Conforme reza a boa pedagogia, o professor não deve desprezar o que os alunos falam na sala de aula (desde que seja importante, é claro) e eu, para cumprir essa máxima, comecei uma nova discussão, agora sobre o "politicamente correto."
Ao falarmos sobre o quanto a família prejudica a criança deixando que a TV eduque-a, uma das alunas mencionou que cantar "Atirei o pau no gato" também prejudica as crianças e que o correto é cantar "Não atire o pau no gato" e foi citando trechos de outras músicas e suas "novas versões politicamente corretas". Eu, que já ando traumatizada com os excessos dos evangélicos (não entandam como uma ofensa a esse grupo, já que também faço parte dele), - como por exemplo: cantar "RÁ-TIM-BUM" depois do Parabéns prá você é falar do... (prefiro não escrever o nome dele aqui) - fiquei estarrecida com o comentário e comecei a debater sobre o assunto.
A discussão virou polêmica, não foi concluída e a aluna ainda ficou ofendida porque eu disse que esse tipo de ideia era exagero (usei aqui um eufemismo para não correr o risco de ser processada mais tarde por preconceito) de evangélico . Peço desculpas por parte da colocação, já que o politicamente correto não é exagero de evengélicos. Eu, como uma eficiente pesquisadora e internauta que sou (risos), assim que cheguei em casa, fui perguntar ao Google sobre a origem da expressão e encontrei o seguinte texto:
Politicamente
correto é um conceito que apareceu principalmente nos Estados Unidos nos anos
1980 aplicado primeiro ao universo linguístico e que se estendeu para várias
práticas sociais, políticas e culturais em vários países do Ocidente nas
décadas seguintes. No começo, o que foi chamado de forma pejorativa de
"politicamente correto" era uma intervenção de caráter puritano na
linguagem, com o objetivo de banir o uso de determinados termos considerados
preconceituosos, injustos, imprecisos ou ofensivos a determinados segmentos
sociais, como mulheres, negros e homossexuais, entre outros. Por exemplo, na
língua portuguesa os defensores do politicamente correto condenam o uso do
verbo "judiar" por associar seu significado negativo de "tratar
mal a alguém" com o povo judeu, e, no inglês norte-americano, o
politicamente correto levou ao surgimento de expressões como
"afro-americano" para referir-se ao indivíduo negro nascido naquele
país, como forma de identificá-lo pela ascendência e não pela cor da pele. A
ideia do politicamente correto, que passou a definir o que seria aceitável e
apropriado na linguagem, alcançou com o passar dos anos as práticas
sociopolíticas, defendido principalmente por grupos de ativistas, como as
feministas, o movimento gay e o movimento negro. O fenômeno assumiu
características totalitárias, segundo seus críticos, ao tentar impor mudanças
nas narrativas históricas e até mesmo em obras artísticas, quando as considera
ofensivas a alguns de seus preceitos. Concebido a partir das ideias de vários
pensadores marxistas, o politicamente correto está intimamente associado a
conceitos como o multiculturalismo e o relativismo cultural.
Ainda insatisfeita com a inconclusão do assunto, lembrei-me de um e-mail que recebi ano passado: uma excelente crônica que me caiu como uma luva. Expressa o que eu penso sobre o politicamente correto. Por isso, não me perdoaria se ficasse sem postá-la aqui.
Chegamos ao limite da insanidade da onda do
politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e
escolas, não cantam mais “O cravo brigou com a rosa”. A explicação da
professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo –
o homem – e a rosa – a mulher – estimula a violência entre os casais.
Na nova letra “o cravo encontrou a rosa/ debaixo de
uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada”. Que diabos
é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria
da Penha. Será que esses doidos sabem que “O cravo brigou com a rosa”
faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de
temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos!!!!!!
Outra música infantil que mudou de letra foi “Samba
Lelê”. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte:
Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/
Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda
está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal
agora ensina assim: “Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim
que a febre passar/ A Lelê vai estudar.” Se eu fosse a Lelê, com uma
versão dessas, torcia pra febre não passar nunca.
Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos
de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: “Samba Lelê, de
Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz”. Comunico
também que não se pode mais “atirar o pau no gato”, já que a música
desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem “entra na
roda dança”, nos dias atuais, não pode mais ter “sete namorados para se
casar com um”. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é “pobre ou rico de marré-de-si”, para
não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os
homens. Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa
e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, “Pai Google
da Aruanda”] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos
anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia,
de fato, era vista como coisa de viado.
Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que
possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho
estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa
das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magoo. Quer
dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me
desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda
babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da
criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a
pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão – o popular
pintor de rodapé ou leão de chácara de baile infantil – de “deficiente
vertical”. O crioulo – vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso)
- só pode ser chamado de “afrodescendente”. O branquelo – o famoso
branco azedo ou Omo total – é um “cidadão caucasiano desprovido de
pigmentação mais evidente”.
A mulher feia – aquela que nasceu pelo avesso, a
soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o
rascunho do mapa do inferno – é apenas a “dona de um padrão divergente
dos preceitos estéticos da contemporaneidade”. (Que o diga o
deputado…) O gordo – [...] Vesúvio, Orca,
baleia assassina e bujão – é o “cidadão que está fora do peso ideal”.
O magricela não pode ser chamado de morto de fome,
pau de virar tripa e Olívia Palito. [...] Nas aulas sobre o
barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o
escultor Antônio Francisco Lisboa tinha “necessidades especiais”… Não
dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa
tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos
gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de
futebol. Ao invés de mandar o juiz pra………… e o centroavante
pereba tomar ……………, cantaremos nas arquibancadas o allegro da
Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria
dos homens, do velho Bach.
(...)
Luiz Antonio Simas
Eu poderia ainda continuar a crônica acrescentando a ela uma conversa que houve ano passado entre mim e dois amigos muito inteligentes. Um deles é diabético e disse que estava prestes a completar 64 anos de idade. O outro, para provocá-lo, falou que se houvesse festa de aniversário iria colocar uma faixa com a frase: "64 anos de glicose". Tiro o meu chapeu para o duplo sentido da expressão e para a criatividade dele e aconselho aos adeptos do "politicamente correto" que antes de chamarem aquele pessoa insistente e pegajosa de ...doce, para não ofender, chamem-na de "anus de glicose".
Amo saber a opinião dos meus alunos sobre tudo que coloco aqui. Por isso, convido a todos, especialmente aos alunos do 2º ano do Turno Matutino a falarem o que pensam sobre o "politicamente correto".
Beijos!!!
As músicas populares como as cantigas de roda e de ninar, não mudou de aspecto. A interpretação das pessoas que mudou.
ResponderExcluirA partir do momento que a democracia brasileira evoluiu e atingiu todos, uma mínima palavra seria uma agressão,e poderia recorrer a justiça(muitas vezes em busca de um bom dinheiro extra).
Essas meninas do 2º ano(que por acaso são minhas colegas), passaram suas infâncias toda ouvindo essas cantigas e nem por isso desenvolveram um caráter violento ou medíocre.
Não concordo com esse politicamente correto,apoio a opinião da professora.
Artur: senso crítico aguçado, inteligente e estudioso. Você me alegra a profissão.
ExcluirContinue assim.
Beijos!!!
Amei o tal do politicamente correto,achei bem engraçada as histórias.As vezes expressões desagradaveis são mencionadas de forma que não gostamos,como me chamarem de nagricela,eu já sei que eu sou, pra que ficar falando?(BRINCADEIRA EU NEM LIGO PRA ISSO)
ResponderExcluirMas eu acho que falar politicamente correto não é legal temos que falar do jeito que achamos melhor,claro que sem magoar ninguém.A historia do ATIREI O PAU NO GATO não fazer com que criança nenhuma queira matar algum gato pois não terão mente suficiente para pensar até esse ponto,pois eu passei a minha infancia ouvindo a minha mãe cantar:BOI DA CARA PRETA,BICHO PAPÃO,CUCA,E NÃO mudei o meu comportanento.
E eu queria dizer pra ARTUR que eu concordo plenamente com ele pois ninguém muda o seu comportamento por ter ouvido essas músicas.
Oi Elba. Gostei muito do seu comentário. Mostra que você compreendeu o tema.
ResponderExcluirBeijos!!!