É bom "futucar" esse blog porque...

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"A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria." (Paulo Freire)


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

POLITICAMENTE CORRETO

Semana passada, eu estava trocando ideias com os alunos do 2º Ano do turno matutino sobre o tema TELEVISÃO. Aulas não são lineares e um assunto puxa outro. Conforme reza a boa pedagogia, o professor não deve desprezar o que os alunos falam na sala de aula (desde que seja importante, é claro) e eu, para cumprir essa máxima, comecei uma nova discussão, agora sobre o "politicamente correto."

Ao falarmos sobre o quanto a família prejudica a criança deixando que a TV eduque-a, uma das alunas mencionou que cantar "Atirei o pau no gato" também prejudica as crianças e que o correto é cantar "Não atire o pau no gato" e foi citando trechos de outras músicas e suas "novas versões politicamente corretas". Eu, que já ando traumatizada com os excessos dos evangélicos (não entandam como uma ofensa a esse grupo, já que também faço parte dele), - como por exemplo: cantar "RÁ-TIM-BUM" depois do Parabéns prá você é falar do... (prefiro não escrever o nome dele aqui) - fiquei estarrecida com o comentário e comecei a debater sobre o assunto. 
A discussão virou polêmica, não foi concluída e a aluna ainda ficou ofendida porque eu disse que esse tipo de ideia era exagero (usei aqui um eufemismo para não correr o risco de ser processada mais tarde por preconceito) de evangélico . Peço desculpas por parte da colocação, já que o politicamente correto não é exagero de evengélicos. Eu, como uma eficiente pesquisadora e internauta que sou (risos), assim que cheguei em casa, fui perguntar ao Google sobre a origem da expressão  e encontrei o seguinte texto:

Politicamente correto é um conceito que apareceu principalmente nos Estados Unidos nos anos 1980 aplicado primeiro ao universo linguístico e que se estendeu para várias práticas sociais, políticas e culturais em vários países do Ocidente nas décadas seguintes. No começo, o que foi chamado de forma pejorativa de "politicamente correto" era uma intervenção de caráter puritano na linguagem, com o objetivo de banir o uso de determinados termos considerados preconceituosos, injustos, imprecisos ou ofensivos a determinados segmentos sociais, como mulheres, negros e homossexuais, entre outros. Por exemplo, na língua portuguesa os defensores do politicamente correto condenam o uso do verbo "judiar" por associar seu significado negativo de "tratar mal a alguém" com o povo judeu, e, no inglês norte-americano, o politicamente correto levou ao surgimento de expressões como "afro-americano" para referir-se ao indivíduo negro nascido naquele país, como forma de identificá-lo pela ascendência e não pela cor da pele. A ideia do politicamente correto, que passou a definir o que seria aceitável e apropriado na linguagem, alcançou com o passar dos anos as práticas sociopolíticas, defendido principalmente por grupos de ativistas, como as feministas, o movimento gay e o movimento negro. O fenômeno assumiu características totalitárias, segundo seus críticos, ao tentar impor mudanças nas narrativas históricas e até mesmo em obras artísticas, quando as considera ofensivas a alguns de seus preceitos. Concebido a partir das ideias de vários pensadores marxistas, o politicamente correto está intimamente associado a conceitos como o multiculturalismo e o relativismo cultural.

Ainda insatisfeita com a inconclusão do assunto, lembrei-me de um e-mail que recebi ano passado: uma excelente crônica que me caiu como uma luva. Expressa o que eu penso sobre o politicamente correto. Por isso, não me perdoaria se ficasse sem postá-la aqui.




 Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais “O cravo brigou com a rosa”. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo – o homem – e a rosa – a mulher – estimula a violência entre os casais.

Na nova letra “o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada”. Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que “O cravo brigou com a rosa” faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos!!!!!!

Outra música infantil que mudou de letra foi “Samba Lelê”. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte:

Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: “Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.” Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca.

Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: “Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz”. Comunico também que não se pode mais “atirar o pau no gato”, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem “entra na roda dança”, nos dias atuais, não pode mais ter “sete namorados para se casar com um”. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é “pobre ou rico de marré-de-si”, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens. Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, “Pai Google da Aruanda”] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado.
Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magoo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão – o popular pintor de rodapé ou leão de chácara de baile infantil – de “deficiente vertical”. O crioulo – vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de “afrodescendente”. O branquelo – o famoso branco azedo ou Omo total – é um “cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente”.
A mulher feia – aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno – é apenas a “dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade”. (Que o diga o deputado…) O gordo – [...] Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão – é o “cidadão que está fora do peso ideal”.
O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. [...] Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha “necessidades especiais”… Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra………… e o centroavante pereba tomar ……………, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
(...)

                                                                                            Luiz Antonio Simas


Eu poderia ainda continuar a crônica acrescentando a ela uma conversa que houve ano passado entre mim e dois amigos muito inteligentes. Um deles é diabético e disse que estava prestes a completar 64 anos de idade. O outro, para provocá-lo, falou que se houvesse festa de aniversário iria colocar uma faixa com a frase: "64 anos de glicose". Tiro o meu chapeu para o duplo sentido da expressão e para a criatividade dele e aconselho aos adeptos do "politicamente correto" que antes de chamarem aquele pessoa insistente e pegajosa de ...doce, para não ofender, chamem-na de "anus de glicose".

Amo saber a opinião dos meus alunos sobre tudo que coloco aqui. Por isso, convido a todos, especialmente aos alunos do 2º ano do Turno Matutino a falarem o que pensam sobre o "politicamente correto".


Beijos!!!